Você sabe fazer boas perguntas?

Vivemos cercados de respostas. Respostas rápidas, prontas, mastigadas. Respostas que a tecnologia nos serve em segundos, que a inteligência artificial organiza em relatórios, que os buscadores despejam em páginas intermináveis. Mas, no meio desse oceano, uma pergunta se impõe: será que ainda sabemos perguntar?

Perguntar não é apenas abrir a boca em busca de informação. Perguntar é ato criativo. É movimento de quem ousa explorar, não de quem se contenta com o óbvio. Uma boa pergunta não só busca respostas — ela reorganiza o pensamento, expõe contradições, abre caminhos que antes não existiam.

Einstein dizia que, se tivesse uma hora para resolver um problema, gastaria 55 minutos pensando na pergunta certa. Não por vaidade, mas porque a qualidade da resposta depende da precisão da questão. E talvez seja isso que estejamos perdendo no ritmo atual: a paciência de elaborar perguntas que valem a pena.

Na era da IA, isso se torna ainda mais urgente. Porque a máquina responde com eficiência, mas não questiona a relevância do que você pede. Se a pergunta é rasa, a resposta será rasa. Se a pergunta é enviesada, a resposta será enviesada. A inteligência artificial é um espelho sofisticado: devolve o que você entrega, amplifica a lógica que você embute.

É aí que a arte de perguntar volta a ser diferencial humano. Perguntar com profundidade. Perguntar com cuidado. Perguntar com ética. Perguntar não para confirmar certezas, mas para tensioná-las.


Mas como aprender a perguntar?

Perguntar é habilidade que se treina, não dom inato. E para cultivá-la, precisamos desenvolver alguns requisitos:

  • Curiosidade autêntica – perguntar não para ter controle, mas para entender de verdade. Quem já acha que sabe, pergunta mal.
  • Escuta atenta – as melhores perguntas não surgem do que pensamos, mas do que ouvimos. Escutar com presença é abrir espaço para que a pergunta apareça.
  • Cultura de diálogo – ambientes que punem o erro ou ridicularizam a dúvida matam a pergunta antes dela nascer. Precisamos de culturas que premiem quem arrisca perguntar.
  • Conhecimento de base – paradoxalmente, quem estuda mais pergunta melhor. O repertório não serve só para responder, mas para formular questões mais finas e precisas.
  • Coragem intelectual – perguntar é expor-se. É admitir vulnerabilidade. É se colocar diante do desconhecido sem medo do julgamento.

Essas condições não se compram, nem se terceirizam. São cultivadas no dia a dia — em conversas profundas, em leituras diversas, em espaços que não tratam a dúvida como fraqueza, mas como motor de aprendizado.


A pergunta certa ilumina o que estava escondido. Ela desloca, incomoda, dá trabalho. Mas também abre espaço para inovação verdadeira, para conexões que não surgiriam sem ela. Perguntar bem é, em última instância, um ato de coragem: é admitir que não sabemos — e, ainda assim, sustentar o desejo de descobrir.

No fundo, talvez a maior diferença entre viver no automático e viver com intenção esteja justamente aí: em perguntar mais e melhor. Porque, no fim das contas, perguntar não é fraqueza. É a origem de toda força criativa.

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