O paradoxo da inovação: por que você precisa ter a coragem de desconstruir para criar

Vivemos sob a ditadura da construção. Desde a escola até as reuniões de board, somos condicionados a acreditar que o progresso é uma linha reta ascendente, feita apenas de adições: mais funcionalidades, mais processos, mais cargos, mais ferramentas. A metáfora do sucesso é sempre uma torre que sobe. Nessa lógica acumulativa, a ideia de “desfazer” ou “quebrar” algo soa como um anátema, um sinal de falha ou retrocesso.

No entanto, se olharmos com a lente do Nexialismo, perceberemos que essa obsessão pela adição é, muitas vezes, o que trava a verdadeira inovação.

A transformação real não nasce apenas de empilhar tijolos novos sobre fundações velhas. Ela nasce do ato consciente, analítico e corajoso de desmontar as estruturas que já não servem mais. É o que chamo, no Volume 5 do livro Nexialismo, de Desconstrução Criativa.

Desconstruir não é destruir

É fundamental destrinchar essa diferença. A destruição é o fim, o caos sem propósito. A desconstrução, por outro lado, é um método. É o processo de examinar estruturas e conceitos existentes, desfazendo-os cuidadosamente para revelar oportunidades novas e inesperadas. É olhar para o seu negócio e ter a frieza cirúrgica de separar o que é essencial do que é apenas hábito.

Como escrevi no capítulo sobre inovação sistêmica:

“Inovar é reorganizar o conhecimento, não apenas gerar novidade”.

Muitas vezes, temos as peças certas, mas elas estão montadas na ordem errada. O nexialista é aquele que tem a visão sistêmica para desmontar o quebra-cabeça e remontá-lo de uma forma que faça sentido para o mundo complexo e interconectado de hoje.

O caso da Tesla e a inversão de pressupostos

Vamos sair da teoria. Olhe para a indústria automotiva. Por mais de um século, “inovar” significava fazer um motor a combustão um pouco mais eficiente. A estrutura básica do carro era um dogma intocável.

A Tesla não jogou esse jogo. Ela aplicou a desconstrução criativa ao desafiar a lógica tradicional dos carros movidos a combustíveis fósseis. Ao remover a complexidade mecânica do motor a combustão, ela não apenas “melhorou” o carro; ela reconfigurou o veículo como um software sobre rodas, redefinindo expectativas sobre desempenho e experiência.

Eles utilizaram uma técnica que descrevo no livro como Inversão de Pressupostos. Eles perguntaram: “E se o coração do carro não fosse mecânico, mas digital?”. Ao questionar a base, encontraram o novo.

O mesmo aconteceu com a Netflix. O pressuposto da Blockbuster era: “o cliente vai até a loja”. A Netflix desconstruiu isso: “e se a loja for até o cliente?”. Depois, desconstruiu novamente com o streaming, desafiando a posse física em favor do acesso.

O medo do vazio e a coragem de questionar

Por que, então, a maioria das empresas (e carreiras) resiste tanto a esse processo? Porque desconstruir gera um vácuo momentâneo. Gera insegurança. Exige que questionemos hábitos ultrapassados e práticas que, embora confortáveis, precisam ser repensadas.

Mas é justamente nesse espaço vazio, nesse “entre”, que a inovação com sentido floresce.

A inteligência artificial está acelerando esse processo. Ela commoditiza a “construção” padrão. O que sobra para nós, humanos, é a capacidade crítica de discernimento: saber o que deve ser desconstruído. A IA pode otimizar o que já existe, mas a visão crítica para questionar o “porquê” das coisas serem feitas de determinada maneira ainda é uma competência profundamente humana.

Como aplicar a desconstrução hoje?

Não espere uma crise para questionar seus alicerces. A desconstrução criativa deve ser uma prática contínua. Comece aplicando a Desmontagem Funcional: separe seu produto, serviço ou rotina em componentes fundamentais. Analise cada parte isoladamente. Pergunte-se: isso gera valor real ou está aqui apenas porque “sempre foi assim”?

O convite desta edição é para que você assuma a postura do nexialista: alguém que não teme a complexidade, mas que sabe que, às vezes, é preciso desmontar o castelo para construir a ponte.

O que você está segurando hoje apenas por medo de ver desmontado? Talvez seja exatamente aí que mora a sua próxima grande inovação.

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