Nossa cultura é viciada em inícios. Somos bombardeados por narrativas de “o primeiro passo”, “a grande ideia”, “o lançamento”. A euforia do começo — a página em branco, o projeto recém-aprovado, a energia do novo — é a droga que mantém o ciclo do consumo e da ansiedade girando. Mas e o meio do caminho? Onde ficam a monotonia, a resistência, a disciplina e a paciência de sustentar uma ideia quando o brilho inicial se esvai?
O meio do caminho é onde a maioria das grandes ideias morre. É o vale escuro onde a métrica estagna, a equipe se cansa e a motivação inicial se desfaz em uma rotina de pequenos ajustes. A sociedade nos condicionou a buscar o “novo” como sinônimo de “melhor” e nos ensinou a pular de galho em galho, abandonando o processo de maturidade que só o tempo e a consistência podem trazer.
A Anatomia do Fracasso na Execução
A urgência por gratificação instantânea, algo que pesquisas sobre comportamento humano já identificam, nos torna propensos a abandonar projetos complexos antes que o valor real se manifeste. Não é por falta de visão ou talento que muitos empreendimentos falham. É por incapacidade de sustentar a execução no longo prazo.
O nexialismo, a arte de conectar saberes, nos ensina que o durar é uma estratégia, não um acaso. Você pode ter a faísca (o insight) do Mago, mas é a consistência e a estrutura do Sábio que garantem que essa faísca vire fogo. Quando um projeto fracassa, as razões mais citadas são a falta de objetivos claros, comunicação deficiente ou cronogramas irreais. Em outras palavras, falha na fundação, na interligação e na disciplina — falha no meio do caminho.
A Inteligência que Resiste
No meio do caminho, a inteligência é outra. Não é a inteligência da faísca, da inspiração momentânea. É a inteligência da resiliência, do ajuste fino, da escuta atenta aos sinais sutis que o projeto em si começa a emitir. É ali que separamos o gesto romântico do ato de criação real.
O inventor Thomas Edison, que precisou de mais de mil tentativas para criar a lâmpada elétrica, capturou essa ideia com clareza: “Nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho mais certo de vencer é tentar mais uma vez”. Ele não estava obcecado pelo começo, mas pela persistência no processo. Para ele, cada erro era um aprendizado, um passo a mais na jornada, não um motivo para recuar.
A inovação verdadeira não é apenas sobre o que se inicia, mas sobre o que se sustenta. Em um mundo onde a IA nos entrega o começo rápido, a capacidade de habitar o tédio produtivo, o ajuste constante e a repetição intencional se tornam o verdadeiro diferencial humano.
A pressa em pular para o próximo “começo” nos impede de colher os frutos da profundidade. Não se constrói um legado em saltos curtos e inconstantes. Se constrói em dias, semanas e meses de trabalho pouco glamuroso, mas essencial.
O grande lance é entender: você tem cultivado a paciência de habitar o meio do caminho, ou está sempre buscando a próxima euforia do início?





