Derrubando Silos: O Custo Invisível da Guerra Fria entre Áreas e Especialistas (e como assinar a paz)

Existe uma piada corporativa antiga, mas dolorosamente atual, que diz:

“O Marketing vende o que a Engenharia ainda não construiu, e a Engenharia constrói o que o Marketing não sabe vender”.

Rimos de nervoso, porque reconhecemos a verdade por trás da caricatura. Em muitas organizações, esses dois departamentos por exemplo não apenas operam em andares diferentes, mas parecem habitar planetas distintos, com atmosferas, gravidades e idiomas irreconciliáveis.

De um lado, a Engenharia e o Produto, guiados pela precisão, pela viabilidade técnica, pelos prazos de desenvolvimento e pela lógica binária do que funciona ou não. Do outro, o Marketing e Vendas, movidos pela percepção, pela narrativa, pela urgência do mercado e pela fluidez do desejo humano. Quando esses mundos colidem sem um tradutor, o resultado não é inovação; é atrito. É o feature lançado que ninguém pediu, ou a campanha brilhante que promete uma funcionalidade que vai quebrar o sistema na primeira semana.

Esse fenômeno tem nome: Silos Organizacionais. E, conforme exploramos no livro Nexialismo, eles são uma das maiores barreiras para a inteligência coletiva. Os silos isolam áreas, impedem o diálogo e transformam a colaboração em uma negociação de reféns. O problema não é a especialização em si — precisamos de engenheiros profundos e marqueteiros sagazes. O problema é o “Especialismo Excessivo sem Abertura”, onde o conhecimento se fecha em si mesmo, criando muros em vez de pontes.

A raiz dessa desconexão geralmente reside na Falta de Linguagem Comum. A comunicação fragmentada, cheia de jargões técnicos de um lado e buzzwords corporativos do outro, cria um vácuo de entendimento. O engenheiro fala em “dívida técnica” e “refatoração”; o marqueteiro fala em “brand equity” e “lead scoring”. Sem um esforço consciente de tradução, a conversa vira uma Torre de Babel onde todos falam, mas ninguém se escuta.

E qual é o custo disso? O custo é a perda da visão sistêmica. Quando o foco se torna “quem tem razão” ou quem manda no cronograma, a organização perde a chance de construir algo maior do que a soma das partes. As “Vaidades Profissionais e Disputas de Território” drenam a energia que deveria estar sendo usada para resolver os problemas do cliente.

A Solução Nexialista: O Tradutor de Mundos

Para derrubar esses silos, não basta agendar uma reunião semanal de alinhamento (que muitas vezes vira apenas uma troca de acusações educada). É preciso uma mudança de postura cultural baseada no pensamento nexialista.

O primeiro passo é a Tradução entre Especialidades. Precisamos de profissionais — ou de uma cultura — que atuem como intérpretes. Alguém que consiga explicar para o time de marketing por que aquela funcionalidade demora três meses para ser desenvolvida, traduzindo a complexidade técnica em restrições de negócio compreensíveis. E, inversamente, alguém que explique para a engenharia por que a mudança de cor do botão impacta a conversão, traduzindo a psicologia do consumidor em requisitos de interface. A clareza na comunicação é o elo entre mundos diferentes.

O segundo passo é o desenvolvimento do “Perfil T”. Não precisamos que o engenheiro vire especialista em SEO, nem que o redator aprenda a codificar em Python. Mas precisamos que ambos desenvolvam a barra horizontal do “T”: uma base ampla de conhecimentos em outras disciplinas que permita a empatia profissional. Quando um desenvolvedor entende o básico da jornada do cliente, ele coda com outra intenção. Quando um marqueteiro entende a lógica de um banco de dados, ele para de pedir o impossível.

Finalmente, é preciso estabelecer um Propósito Coletivo Claro. Marketing e Engenharia não trabalham para seus diretores; trabalham para resolver a dor de alguém lá fora. Quando o “porquê” é claro e compartilhado, os “comos” técnicos e criativos tendem a se conectar naturalmente.

Superar a fragmentação exige coragem para sair da zona de conforto da sua própria especialidade. Exige a humildade de perguntar “o que eu não estou vendo?” para o colega do outro departamento. Como dizemos no livro Nexialismo:

“Quando o foco é quem tem razão, perde-se a chance de construir algo maior”.

A verdadeira inovação não acontece dentro do departamento de Marketing, nem dentro do laboratório de Engenharia. Ela acontece no corredor, no entre, no espaço onde a lógica técnica encontra a narrativa humana e, em vez de brigarem, decidem dançar.

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