A ilusão da originalidade no mundo conectado

Será que ainda existe algo realmente novo? Ou estamos apenas remixando o que já foi dito, sentido e pensado antes?

Vivemos numa era obcecada pela originalidade. Inovação é o mantra, ideias “fora da caixa” são o objetivo, autenticidade virou ativo de marca pessoal. Nas redes, todo mundo quer ser o primeiro a dizer o que ninguém disse, com a estética que ninguém usou, no formato que ninguém viu. Mas por trás dessa busca frenética por novidade, há uma questão incômoda que poucos se atrevem a encarar:

Será que ainda existe algo realmente original?

A internet nos conectou a tudo — e, ao fazer isso, revelou o quanto já existe sobre tudo. Basta ter uma ideia para descobrir que alguém já publicou um TED sobre ela, escreveu um livro, criou um podcast ou viralizou num carrossel. A sensação de que “cheguei lá” dura pouco. O algoritmo entrega, em segundos, alguém que já passou por ali antes. E aí, vem o baque: será que vale a pena continuar?

É aí que mora a armadilha. Confundimos originalidade com ineditismo. Achamos que ser original é dizer algo novo — quando, na verdade, ser original é dizer algo com verdade. É atravessar as referências conhecidas com a sua lente, com seu repertório, sua experiência, seu contexto. Não importa se outras pessoas já falaram sobre um assunto. Elas não falaram do seu jeito. Não viveram do seu ponto de vista. Não conectaram como você conecta.

Muitos grandes pensadores nunca criaram algo “novo”. Criaram combinações que ninguém tinha feito. Trouxeram interpretações únicas para temas antigos. Na prática, toda criação é um remix. O que muda é o critério. A coragem de assumir uma perspectiva. A profundidade de mergulho. O risco de ser incompreendido. Porque o que nos toca não é a originalidade do assunto, mas a potência da entrega. A densidade da vivência. A fricção entre o que já existe e o que você ousa provocar.

No marketing, isso é crucial. As marcas que mais conectam não são necessariamente as que inventam o futuro — mas as que sabem contar boas histórias sobre o presente. Que se apropriam de um ponto de vista e o exploram com consistência. Que não têm medo de repetir uma ideia, se ela ainda for relevante. Afinal, a maior parte do público está chegando agora. E o que parece batido para você pode ser revelador para quem escuta pela primeira vez.

Com a inteligência artificial, a questão ganha novos contornos. Agora, qualquer um pode gerar textos, imagens e ideias em segundos. Mas a diferença não está na ferramenta — está no operador. A IA cria variações. O humano cria tensão. A IA entrega o que é provável. O humano entrega o que é pessoal. Num mundo onde tudo pode ser gerado, o valor está em quem escolhe o que merece ser aprofundado.

Por isso, da próxima vez que uma ideia te parecer “óbvia demais”, “repetida demais” ou “simples demais”, pergunte-se: ela ainda precisa ser dita? Ela carrega algo de você? Ela pode causar impacto em alguém que ainda não a escutou com esse tom, nesse momento, desse jeito?

Se a resposta for sim, publique. Escreva. Grave. Compartilhe.

Porque a verdadeira originalidade não está em dizer o que nunca foi dito. Está em ousar dizer o que importa, mesmo sabendo que alguém já tentou antes.


💭 Qual ideia você deixou de compartilhar por achar que “alguém já falou sobre isso”? Pode ser a hora certa de dar voz a ela — com a sua lente.

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